As Paranoias de Alastair Dias

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O conto abaixo é uma prévia de um livro que pretendo escrever até o mundo acabar em 2012.

Ele está lá fora. Sim, está desde o início desta maldita noite fria e negra, nublada e cheirando a morte. Ele me olha com aquele olhar vermelho de sangue. Não se move nem sequer um milímetro. Parece que espreita a minha alma sofrida e desesperada. Já carreguei o revólver que sempre mantive guardado numa gaveta do guarda-roupa, entre as minhas roupas. Não, não é para ele, afinal não morrerá com tiros de balas comuns. A sua figura sombria, animalesca, humanoide, revela que não se trata de uma criatura natural, mas sim um demônio, uma besta do Inferno.
Eu tento ler um livro, mas a sua presença me é constante, apesar de estarmos a cinquenta metros de distância um do outro e termos uma janela de vidro blindado nos separando. Isso me incomoda imensamente. Arrisco-me a olhar para fora e o vejo ainda sentado ou em pé, olhando a minha alma.
A madrugada se aproxima e o sono não. Na verdade, creio que durmo e tenho este pesadelo. Desde criança sempre tive medo dele, daquela figura canina e negra. Freud com certeza diria que a imagem do demônio que está lá fora é o reflexo de meu medo de cães negros. E o que estou tendo é um pesadelo.
Eu pego o revólver e checo as balas. Já não aguento mais tanta tortura. Se for sonho, pesadelo, eu acordarei ao puxar o gatilho e não mais verei a figura animalesca e humanoide lá fora. Se for realidade, dormirei no sono da morte, irei encontrar talvez a minha esposa e o meu filho, ambos mortos por um assassino e estuprador. A morte, enfim, parece-me a solução para todos os meus problemas.
Aponto o cano da arma para a minha têmpora esquerda e dou uma última olhada para fora e percebo que ele ainda me olha, agora ainda mais maligno e demoníaco. Puxo o gatilho. O meu corpo tomba numa poça de sangue, com um grande buraco na cabeça. Estou morto.
Mas a figura sombria do cão negro ainda permanece...

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